Uma primeira vez

sexta-feira, março 16, 2007

Laranja

Dispo-me de mim,
Arranco pedaço a pedaço,
Como as pétalas à flor e a casca ao fruto.

Aparece, aos poucos, a imagem,
A claridade que descobre o mundo,
A verdade.

Tarde de mais para me revestir.
Oh máscara suculenta, que me cobria o rosto,
Que me adoçava a realidade!

Lúcia Rocha

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Meus olhos reagem

E enchem-se de água meus olhos,
Famintos de ardor, quentes,
Dormentes de dor,
Saudosos de um futuro desconhecido,
Caminhantes nos sonhos nocturnos.

E secam-se os meus olhos,
Ao vento movido pelos moinhos,
Das mais altas esperanças,
Onde a brisa não existe,
E os cantos se apagam.

Lúcia Rocha

sexta-feira, janeiro 12, 2007

"Fecha os olhos e esvazia a mente"

Como se fosse possível
Deitar sobre as mil penas
E, sossegadamente,
Penetrar nelas,
Sem que nada se oponha.
Até me deito,
Até as enrosco no meu peito,
Mas tornar-me nada...
Não.

Baixar as portadas,
Fechar os olhos
E varrer a mente,
Tornando-me isenta de todo o mundo...
Oh, levem-me os pensamentos!

Lúcia Rocha

terça-feira, janeiro 02, 2007

Ao Ver-te

Levei o silêncio,
Sentei-me a ouvir-te,
(Nos estrados soltos),
Juntamente com as gaivotas,
Tentando perceber se aquilo que me sossega,
Tem o mesmo efeito,
Sobre o vôo pleno delas.

Lúcia Rocha

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Vazio embaciado











O auge,
A magia,
Passaram pelo vazio,
Que continua embaciado,
Por sons,
E sentires.
No entanto,
O caminho ainda existe,
A escadaria é interminável.
E a luz persistente,
Mantém-se,
Ali no fundo da minha janela.

Lúcia Rocha

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Sorrir

De nada sorri,
Tornei a sorrir,
Mantive o sorriso,
Dei uma gargalhada.
Comprimi os lábios,
Fechei-os,
(E todo o mundo fechou).
Controlei o mar,
Impedindo os rios de lá chegar.
Baixei as janelas,
Varri as esperanças,
E sorri.

Lúcia Rocha

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Espelho

Procurar a verdade no reflexo,
No duplo da nossa imagem.
Conhecer o eu físico,
Tentando perceber o que os outros veêm.
Reconhecer o que nos é estranho,
Sendo tão nosso.

No entanto, nada conhecemos,
A não ser um instante,
Uma fracção de segundo,
Pois logo, tudo muda.
Aquele, apenas físico,
Torna-se, novamente
Desconhecido.
E temos tido,
Diariamente,
Novos reflexos,
Novas imagens,
Novos "eus".
Somos desconhecidos a nós mesmos,
Produto do que os outros dizem ver,
não do que nós vemos.

(Fontes de inspiração: um amigo e um espelho)
Lúcia Rocha